Desde que assumiu em 01/01/2015, o Governador Camilo Santana segue em uma série eloqüente e assustadora de demonstrações da sua incapacidade de gerir a segurança pública no estado do Ceará. Rapidamente, em uma sequência de erros, omissões, irresponsabilidades, amadorismos e negligências, sua gestão colocou a nossa sociedade em um caminho horrendo de crime e violência sem precedentes na história brasileira, fazendo inclusive o televisivo Rio de Janeiro se tornar um lugar de paz vis a vis o Ceará. O legado, já fartamente documentado por mim e por poucos outros que se arvoram ao direito de contrapor a “lacração” e imoralidade omissiva reinante nas chamadas “elites intelectuais” e “imprensa dominante” cabeças-chatas, beira o genocídio: mais de 22.000 homicídios, até ontem, pois faltam ainda 18 meses.
Mas para entender toda a inação, degeneração e pusilanimidade dessa gestão, devemos focar também em uma característica repulsiva, mas intrínseca e sistematicamente utilizada pela cúpula estatal: a utilização de falácias escatológicas para se esquivar das responsabilidades, ou como gosto de conceituar: uma espécie de “vitimização sub-reptícia”. Antes da pandemia do COVID 19, eu contava nove, no entanto, agora diante dessa última entrevista do Governador, passamos a dez. Listemos os nove primeiros argumentos falaciosos para tentar justificar o desastre na condução da segurança pública no estado do Ceará:
ARGUMENTO FALACIOSO 1 [Negação da Realidade]: Não há problema de homicídio no Ceará
ARGUMENTO FALACIOSO 2 [Arrogância Pueril]: Somente os estados do Nordeste calculam estatísticas criminais corretas
ARGUMENTO FALACIOSO 3 [Pura Mentira]: O governo federal não combate ao crime organizado
ARGUMENTO FALACIOSO 4 [Nivelamento por Baixo]: O problema é no Brasil inteiro
ARGUMENTO FALACIOSO 5 [Pura Inveja]: A culpa é de São Paulo que criou o PCC
ARGUMENTO FALACIOSO 6 [Ciência Social Obsoleta com Viés Ideológico]: Prevenção social é sempre a melhor solução
ARGUMENTO FALACIOSO 7 [Desqualificação Técnica]: Repressão qualificada e inteligência investigativa não funcionam
ARGUMENTO FALACIOSO 8 [Complexo de Inferioridade com Viés Ideológico]: “Especialistas” com “grifs” acadêmicas do sul e sudeste do país nos salvarão com um Plano de Segurança Mágico
ARGUMENTO FALACIOSO 9 [Desconhecimento dos Fatos]: Temos que esperar por um Plano de Segurança Pública Nacional
Esses nove argumentos são todos absolutamente enganadores e falsos. Eles são o produto da falta de capacidade administrativa, ajuntada com desconhecimento técnico e científico, falta de coragem, desrespeito, irresponsabilidade e uma halitose de mau-caratismo. Todos eles foram utilizados, em vão. O governo simplesmente não se cansa de errar: 1) Diagnóstico equivocado da criminalidade, 2) Negligenciou a crise no setor penitenciário, 3) Fundamentação científica frágil, 4) Foco exagerado na “Prevenção Primária”, 5) Desarticulação do policiamento comunitário, 6) Foco exagerado nas operações do RAIO, 7) Implantação de um Sistema de Incentivos Baseados em Meta sem qualquer escrutínio científico, 8) Baixo nível de gastos em segurança pública, 9) Atrasos e estagnação do Plano “Ceará Pacífico” (plano complexo, deslocado da realidade cearense, raso e “universalista”, portanto, natimorto) 10) Falta de incentivos e atenção à tropa, e 11) Várias disfunções administrativas e gerenciais, 12) Teimosia em manter o Secretário de Segurança no cargo.
Por fim, temos agora uma nova falácia. Utilizando, ipsi litters, as palavras do Governador:
“está em curso um processo de “desorganização” da Polícia e isso tem a ver com as questões políticas e com a sucessão na Capital. Isso “abriu brecha” para o crime e culminou num aumento do número de homicídios.”
É lamentável que o Governador diante de uma onda horripilante de homicídios em plena pandemia, durante um fracassado “isolamento social” decidido por ele mesmo, venha construir uma narrativa tão frágil e caquética para sua incapacidade gerencial. Francamente, será que mais de 20000 policiais da Polícia Militar e mais de 4000 da Polícia Civil do Ceará, homens e mulheres treinados, sérios, maduros seriam “desorganizados” por um movimento político? O Governador mostra um total despreparo e desconhecimento, bem como desrespeito a corporações que existem desde 1808 (Polícia Civil) e 1835 (Polícia Militar). Logo após bater um recorde vergonhoso (em apenas seis meses de 2020, mais pessoas morreram de homicídio do que em todo o ano de 2019), o Sr Camilo Santana vem mais uma vez se vitimizar e tentar culpar outros.
Certamente, Sr Governador Camilo Santana, o que vem acontecendo na sua gestão é simplesmente uma grande soma de tudo que foi feito de errado pela própria gestão, desde o fatídico 01/01/2015, dia da posse. O Senhor se cercou de péssimos “técnicos”, de consultores vazios de conhecimento, mas ávidos por dinheiro, de “especialistas” cujos CVs em segurança pública não vão além de um emaranhado de enganações, de gestores infantis, de cientistas bajuladores e que passam ao senhor um conforto mentiroso. A ciência que o Senhor tanto resmungou durante a COVID 19 é desmentida explicitamente pelo estado atual da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública do Ceará (SUPESP), uma vinculada à SSPDS, órgão do governo criado para ser (pretensamente) responsável pela geração de dados, estudos, pesquisas e informações para subsidiar a elaboração, acompanhamento e avaliação das políticas públicas de prevenção à violência e contribuir na formulação de estratégias para Segurança Pública. Mas o Senhor deixou a SUPESP apenas “no papel”, sob a gestão de uma pessoa sem qualquer qualificação científica. Governador, o “gato comeu” a SUSEP e a ciência da sua gestão. O Senhor parece perdido, catatônico, e não sabemos mais se está ou não de máscara. A maioria avassaladora da população pobre do nosso estado está apavorada, sem saber como se proteger.
Os cearenses da periferia não acreditam mais no Governador quando o ouve falar sobre segurança pública. O Governador já deixou um legado que vai ecoar para sempre na sua trajetória pessoal e profissional ao aprofundar a deterioração da segurança pública como nenhum outro já fez. Continuar dizendo que “fez todo o possível” depõe contra si próprio. Ora, se alguém, há seis anos vem fazendo um trabalho e produz um desastre escatológico como o da criminalidade, podemos logicamente deduzir que essa pessoa simplesmente chegou ao seu limite profissional, ou sequer tinha qualquer capacidade. Por fim, Governador, tenha a humildade de entender algo muito importante na vida: há simplesmente coisas que não conseguimos fazer bem ou mesmo nunca faremos. Eu jamais teria a pretensão de aceitar a gestão de um banco, ou de jogar futebol, ou de tocar violino, ou de recitar poesia, ou de fazer um bolo, ou de dançar forró, muito menos operar uma retro-escavadeira. Com exceção do futebol e talvez do forró, mesmo que eu tentasse tudo, me esforçasse ao máximo, eu jamais faria aquelas coisas de uma maneira minimamente qualificada. Entenda essa realidade e faça a coisa certa: mude rápida e radicalmente a sua gestão de segurança publica ou então aprofunde irreparavelmente a angústia e sofrimento dos cearenses. E, por favor, não se vitimize.
Prof. José Raimundo Carvalho
CAEN/UFC
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